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Dormir. Sonhar? Talvez
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Dormir. Sonhar? Talvez
 
Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil
 
 
Ivan Lessa (ilustração de Baptistão)
Dar uma capotada. Puxar um ronco. Tirar uma tora. Soneca, dormida, cochilo.
Somos fartos em matéria de nos entregarmos aos braços parnasianos de Morfeu ainda que de passagem e fora da hora combinada com o corpo.
Quer dizer, ir para a cama de pijamão e enfileirar de 6 a 8 horas de sono, dependendo do metabolismo do boneco em questão.
Minto. Não há hora combinada com o corpo. O corpo tem sempre razão. Ele que manda. Uma descoberta só feita depois dos 30 anos.
Estou me referindo a algo que sempre equacionei com velhice e velhos: a capotada, o ronco, a tora, o cochilo de tarde.
Dormir era coisa para a madrugada, quando não havia hora para acordar no dia seguinte, ou por volta de meia-noite, quando se tinha – e como se tinha – trabalho no dia seguinte.
À tarde? Dava depressão, gosto ruim na boca, uma estranheza geral.
Parei com essas frescuras. Sempre que posso, e, assim como Sammy Davis Jr. e Barack Obama, eu posso sim, posso e dou uma cochilada de tarde.
Não mais que uns 40 minutos, estourando uma hora, se estiver frio e eu sobre o pregadão.
Nas primeiras vezes que cedi ao sono até então inusitado, eu me sentia culpado depois, acordando algo assustado, embora bem disposto.
A ciência, por uma vez na vida vem agora me dar razão.
Lendo aqui e ali, fico sabendo que a dormida durante o dia é ótimo para o clima geral das pessoas, inclusive faz bem à inteligência, para aqueles que dela tem um pouco.
Mas tem mais. Muito mais. A expressão “dormir no ponto” deixou de ser pejorativa. É uma boa. Saudável. Deixa-nos mais alerta, mais criativo, contribui para nossa produtividade.
Uma hora de capotada no meio do dia vale por 10 horas de estado de alerta. É o chamado “ronco da NASA”, quando o comandante deixa o avião nas mãos do co-piloto.
Segundo consta, 26 minutos de soneca durante o vôo melhora a performance de um aviador entre 34% e 54%. Contanto que não sejam os dois ao mesmo tempo.
Um estudo da Universidade Harvard, publicado no ano passado, mostra que 45 minutos de um ronco bem puxado melhoram não só a memória como também a capacidade de aprender.
Contanto, é óbvio, que o aluno não durma em hora de aula e, se tiver que dormir, que não ronque.
Tem mais. O soninho extra diminui a possibilidade do enfarte e do derrame, além de ajudar a combater o diabetes e o excesso de peso.
Gordotes deste mundo, tirai uma tora! Diabéticos, dormi depois do almoço!
Certas noções básicas sobre nosso corpo, nossa fisiologia, são necessárias para a boa prática da capotada.
Forçoso é saber que durante o sono o cérebro passa por um ciclo de atividade elétrica de 5 etapas.
A primeira, de 20 minutos, proporciona um sono leve, ideal para se acordar logo alerta e ativo.
Os políticos são mestres desta disciplina. Kennedy e Juscelino dormiam o tempo que bem entendiam na hora em que lhes desse na telha.
Vai ver por isso é que foram e ainda são tidos como presidentes não só sempre-vivos como simpaticíssimos.
Depois há as fases 3 e 4, que vão dos 45 aos 60 minutos. Uma fase de sono profundo e recuperador, a ideal para estabelecer as benesses enumeradas até aqui.
À noite? Não passe das 8 horas, nunca menos de 5.
Tudo que me ocorre saber sobre o sono aí está resumido.
Hamlet não perderia o tempo monologando sobre o sono e o sonho, nem teria pensamentos deprimentes, equacionando um e outro à morte, se ao menos tivesse tirado uma soneca de tardinha, em vez de ficar chateando e fosseando mãe, tio, Ofélia, Polônio, Horácio, a corte toda, enfim.  (Transcrito do site BBC Brasil